Algumas histórinhas do meu dia a dia em Dili...
Satu number one:
As línguas oficiais do Timor Leste são o Português e o Tétum (língua local), mas, devido à época da ocupação da Indonésia (de 1975 à 1999), a maioria da população fala Tétum e Bahasa Indonésio e não fala quase nada de Português. A primeira palavra que aprendi a falar em Bahasa foi o número um: SATU! Imagina só, eu me apresentava pras pessoas: "Hi, I'm Sato, nice to meet you!", e alguns respondiam: "Satu?! Number one?! That's a cool name!"; outros respondiam: "Nice to meet you, I'm Dua" (número dois em Bahasa!).
Podia ser pior; tenho um amigo português chamado Vasco, que, quando foi pro Brasil, ao se apresentar pras pessoas, respondiam pra ele: "Prazer, meu nome é Flamengo.".
O barco fujão:
Certo dia, depois de um dia de trabalho punk (dei aula até as 10 da noite), tomei meu banho e fui pro meu quarto. Três minutos depois, batem na minha porta: "Sato, fudeu! Acabamos de saber que barco está a deriva. Precisamos fazer alguma coisa". Pensei: "Porra, que merda, não podia pelo menos ter sido antes do meu banho?! Vou ter que lavar o cabelo de novo?!".
Eu e o Gian fomos até o local onde o barco fica apoitado e ele simplesmente não estava lá. Já tinha derivado tanto que nem dava mais pra ver; os "seguranças" (os caras que são pagos pra tomar conta do barco!) apontaram uma direção e falaram: "Ele foi pra lá."; enquanto alguns foram tentar entrar em contato com a Marianne (a manager do Dive Center) e o Bevan (responsável pelo barco) eu e o holandês entramos na água de máscara, nadadeiras e lanternas pra tentar chegar no barco. Depois de nadarmos um pouco, o avistamos e fomos atrás dele. Quando chegamos lá, descobrimos o que tinha acontecido: a besta do Bevan tinha amarrado o barco na poita sem deixar sobra de cabo. A hora que a maré subiu, o barco levantou a poita, ficou sem apoio e começou a derivar. A poita ainda estava amarrada ao barco.
Eu e o holandês puxamos o barco por uns 300 metros de volta a praia só usando nossas nadadeiras. Só a hora que prendemos o barco de novo que o Bevan chegou com a chave do barco. Aí já nem precisava mais.
O melhor celular do mundo!:
Quem viu o celular Nokia N78 que eu comprei no Brasil, sabe que eu adoro ele. Além do básico dos celulares de hoje em dia (tipo câmera fotográfica e MP3 Player) tem ainda internet Wi-fi e GPS. Porém tinha uma função que eu não podia usar porque a legislação brasileira não permite: o transmissor de FM, que serve pra ouvir as músicas do celular no som do carro (ou de qualquer outro rádio), só colocando o rádio na mesma estação do transmissor do celular. Às vezes nós vamos mergulhar em locais um pouco longe de Dili (1h ~ 1h30 de carro) e como aqui não tem uma rádio que presta (pra se ter uma idéia, a primeira vez que sintonizei uma rádio aqui, estava tocando uma versão piorada de uma das músicas da Xuxa), comecei a procurar um jeito de habilitar essa função. Depois de horas na internet, descobri uma forma de hackear o software do celular. Tinha um risco de dar merda e deu um medo de dar um PT no celular, mas arrisquei e valeu a pena! Agora, sempre que alguém vai mergulhar comigo, vai ouvindo música da boa!
Goat killer:
No país inteiro e também aqui em Dili tem todo tipo de bicho atravessando a rua a toda hora: cachorro, galinha, vaca, porco e, principalmente cabra. Outro dia, na minha folga, peguei o carro e fui passear pela cidade. Atropelei um cabrito! Puuuutz...
Parei o carro e o cabrito pertencia a uma familia; primeiro um rapaz começou a falar: "Police! Police!", mas aí uma senhora, que deve ser a mãe dele começou a brigar com o rapaz, pelo jeito ela não queria ir a polícia. Depois uma mulher começou a gritar: "Fifty dollars! Fifty dollars!"; fingi que não estava entendendo e fiquei quieto; depois ela mudou: "Forty dollars! Forty dollars!"; continuei sem esboçar reação, aí ela começou a baixar de verdade: "Thirty dollars! ... Twenty dollars! ... Ten dollars!". Ah, beleza! Tirei dez dólares da carteira e dei pra mãe da família. A mulher do dinheiro então falou: "You can take the goat.". Respondi: "No thanks, the goat is yours!". No final eles pareceram bem felizes e satisfeitos, porque levaram dez dólares e ainda tinham a janta do dia.
Contei essa estória pra uma amiga minha irlandesa. Como Dili é um "ovo", na mesma noite já tinha um monte de gente me chamando de Goat Killer!